MORAR EM APARTAMENTO
O modus vivendi de nossos heróis médio-classistas, cuja característica mestra consiste no “morar em apartamento”, contribuiu para a instituição de uma nova realidade urbana não apenas pela geração dos “filhos de apartamento”. Outra esquisitice daí proveniente mudaria de figura as nossas cidades: os empreendimentos imobiliários.
A evolução do “morar em apartamento” causou profundas mudanças na maneira como se constrói uma cidade. Se antigamente um edifício era projetado e implantado por um arquiteto, sobre uma malha urbana determinada por um urbanista, e colocado de pé por um engenheiro, atualmente a classe média só compra imóveis projetados por publicitários. O publicitário é uma figura de extrema relevância para a classe. É algo como um guru. Sua função extrapola a mera tradução dos valores do médio-classista e sua consequente materialização em forma de produto, para na verdade formatar a preferência desse cidadão e impor-lhe tudo aquilo que ele deve gostar. Se você quer ser um médio-classista normal, terá de gostar dessa situação. Do contrário será convencido por um publicitário.
Com a cidade sendo construída pelos empreendimentos do departamento de marketing, o desenho urbano e as relações sociais vão tomando a cara da classe média. Todo prédio tem um nome, que quando não é o nome de um médio-classista falecido (com sobrenome italiano), é um estrangeirismo. Os idiomas preferenciais são o inglês, o francês e o próprio italiano.
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