quarta-feira, 18 de julho de 2007

2 A CRISE DA SAÚDE É A CRISE DA CONCEPÇÃO DE SAÚDE

Quem tem perspectiva histórica tem a sensação de que certos problemas e questões sociais parecem insolúveis. Em todos os mais diversos contextos socioculturais – sejam nações, cidades, vilas e outras comunidades -, encontramos os mais diferentes tipos de problemas. Ao ponto de Émile Durkheim, um dos fundadores do pensamento sociológico, defender que em todas as sociedades encontramos um relativo grau de anomia. Em seu clássico estudo acerca do suicídio, Durkheim percebe que, é justamente nas sociedades mais civilizadas, com grandes avanços tecnológicos e políticas bem estruturadas voltadas para o bem-estar social, que encontramos seus mais altos índices. Segundo este autor, isso vem provar que um relativo grau anomia, uma espécie de patologia social, deve ser considerada normal, posto que presente universalmente. Contudo, como nos ensina Bertolt Brecht, por mais constante que seja a presença de uma circunstância absurda no cotidiano seja de nosso país, estado, cidade, vila, prédio, qualquer comunidade, enfim, de nossa vida, não devemos considerá-la como normal. A guerra não pode ser normal, a violência de qualquer espécie, a criminalidade, a corrupção, a política vil, a carga tributária brasileira, nossa alíquota de imposto de renda, as chacinas, os meninos e meninas de rua, o dogmatismo religioso, todo tipo de preconceito, a grosseria, a ignorância, o descaso com a saúde coletiva, entre tantas outras situações que nos causam indignação, às vezes até revolta, não podem ser consideradas normais. Normal é o que deve ser a norma e a norma não pode ser barbárie, por que se vivemos um estado de natureza, como nos diz Thomas Hobbes, onde o ‘homem é o lobo do homem’, devemos então decretar a falência do Estado. De fato, para que Estado se o que temos é uma selva. Ah, como era bom ser verdadeiramente selvagem, quando vivíamos, como denominou Pierre Clastres, nas sociedades sem Estado, uma espécie de comunismo tribal, primitivo que garantiu durantes milhares de anos um estilo de vida equilibrado com relação ao seu ecossistema por não ter a ganância predatória como pulsão.Olhando para os “primitivos”, Durkheim viu entre eles o que denominou de ‘solidariedade mecânica’, organizando sua vida social, que se constituía dentro de uma divisão sexual do trabalho: nestas culturas, os homens caçam e as mulheres coletam. Esse é o fator que definia sua primitividade quando comparados à complexidade da divisão social do trabalho nas sociedades modernas contemporâneas. Nestas, Durkheim viu crescer um novo tipo de solidariedade: uma solidariedade orgânica integrando os diversos papéis sociais, os diversos indivíduos e instituições. Apesar da comparação entre “primitivos” e “modernos” ser criticável sob diversos aspectos, considero bem interessante o termo “solidariedade orgânica”, pois, quando tento pensar naquelas questões sociais que parecem insolúveis, e buscar formas de diminuir ou mesmo exterminar seus impactos, percebo que o MAL radical que nos impede de sermos mais integradamente felizes tem sua origem no valor COMPETIÇÃO, uma espécie de motor do Capitalismo, mas de um Capitalismo burro, caduco, um ‘Capetalismo’, como dizia o profeta Gentileza. Se como dizia Sidarta Gautama, a causa do sofrimento humano é a ignorância e o desapego, a sociedade capitalista que vive a fomentar desejo desejo desejo, além de inventar a tv e usa-la de modo mais idiotizante possível para aumentar a ignorância e inconsciência das pessoas – alô você telespectador! -, sim nossa sociedade capitalista é campeã imbatível na história humana em termos de anomia e barbárie. Nós nos chocamos com os sacrifícios dos antigos, mas matamos hoje como nunca e até já podemos destruir todo o planeta... Medalha de ouro para o Ocidente e sua Globalização. Quem são os bárbaros?CONTINUA Como antropólogo e terapeuta, posso dizer que nenhuma outra sociedade produziu tantas psicopatologias, doenças psicossociais como temos entre nós. E a situação parece piorar... Não acredito que haja nada de novo no front em termos de terapia. Nada que Jesus, Krishna, Buda, Paracelso, Hahnemann, Bach, Reich, entre outros avatares e grandes terapeutas, já nos tenham apontado... Então se o caminho para o equilíbrio tem essas influências, a cura só pode estar no Amor, no desenvolvimento de uma conduta amorosa, tolerante, respeitosa, baseada na alteridade e na COOPERAÇÃO. A COMPETIÇÃO que se pauta esse capitalismo obtuso é o que faz gerar todo Carma, a lei do ‘olho-por-olho’, toda exploração, preconceito e violência. Por outro lado, a COOPERAÇÃO, deve ser o valor central que estruture nosso ‘Novo Testamento Social’, e incida em todos os setores da nossa vida. Somente assim poderemos nos estruturar realmente segundo aquela tal solidariedade orgânica durkheimiana.Projetando essas digressões sobre o campo profissional da área da saúde, vejo a lógica da competição operando a todo o vapor. Nesse campo, o problema maior é que uma certa concepção de saúde predomina sobre outras visões, o que cria uma espécie de pirâmide hierárquica onde a medicina científica parece imperar. Atualmente, entretanto, olho para essa pirâmide e vejo que seus pés são de barro... E como a noite é mais escura logo antes do amanhecer, aqueles que estão encastelados nesta Torre, já agonizam e tentam obstaculizar o movimento holístico que já raiou no horizonte...Na verdade esse predomínio, essa hierarquização é uma falácia que provoca crises do tipo que estamos encontrando nos hospitais no Rio de Janeiro, além de favorecer o desemprego. Vamos aprofundar essas afirmações.CONTINUA Em primeiro lugar, segundo a pesquisadora do Instituto de Medicina Social da UERJ, Madel Luz, se usarmos um referencial espaço-temporal para analisarmos as diversas medicinas que a humanidade já produziu – sim, por que cada sociedade e cultura possui seu sistema terapêutico – veremos que, existem pelo menos, 4 grandes escolas de medicina, 4 grandes saberes ou racionalidades médicas que podem ser divididas dessa forma:OCIDENTE ORIENTEMedicina Vitalista Medicina AyurvédicaMedicina Científica Medicina Tradicional Chinesa Cada uma destas racionalidades possui seus próprios paradigmas, isto é, seus princípios teóricos estruturantes, a cada uma delas estão associados uma Cosmogonia, uma Noção de Corpo, um Sistema Terapêutico e um Sistema Diagnóstico.A cada racionalidade corresponde a um sistema de medicina completo (e complexo) em si mesmo. Nenhum destes saberes pode avaliar um outro segundo suas próprias premissas sem correr o risco da leviandade. Como vimos cada qual tem um enfoque e nenhum pode ser considerado melhor ou superior ao outro. A singularidade de visão e abordagem de cada racionalidade pode assegurar melhor, caso estejam elas integradas, que toda a complexidade de doenças, desequilíbrios, aflições e males de todos os tipos, encontrarão uma enorme gama de recursos terapêuticos para combatê-los. Como dissemos, a hegemonia da medicina científica é um erro, pois privilegia a técnica mais cara e dura. Da mesma forma que um indivíduo não deve se submeter a uma cirurgia se seu problema pode ser tratado com remédio, não devemos usar indiscriminadamente medicação para tudo, pois por que usar uma droga que sempre tem o risco de provocar efeitos colaterais se podemos usar medicações mais brandas, meditação e técnicas de energização e imposição de mãos.Dentre todas as 4 racionalidades que vimos somente a medicina científica não considera os aspectos energéticos do ser. Todas as outras os levam em consideração. Mas este fato já está mudando. Creio que hoje, já é bastante diferente dos primeiros anos de pesquisa de Madel Luz. A incorporação do conceito de estresse e a importância das pesquisas sobre placebo nos revelam isso. De fato, a medicina científica é um saber dinâmico e valioso. Como é a única racionalidade que foca exclusivamente o físico, nenhuma outra escola médica conhece tanto o físico quanto a medicina científica, nem desenvolveram tantas técnicas cirúrgicas, entre outras especificidades. Todavia, sua hegemonia é um erro que deve ser repensado. O saber médico-científico também é maravilhoso como qualquer um dos outros 3 também o é. Mas já é chegada a hora de termos um novo Projeto de Saúde Coletiva, um Programa de Saúde Pública que inclua – respeitando a competência de seus profissionais – as técnicas e práticas holísticas das outras racionalidades. Queremos Florais, Reiki, Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia, Meditação, Massoterapia, Shiatsu, Yôga, Cristais, Renascimento, enfim, todas as técnicas holísticas, reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde, como opções terapêuticas legítimas, presentes nos Hospitais e postos de saúde pública, criando condição de acesso da população em geral a toda essa variedade.Além de melhorar a condição da saúde da população e trazer mais qualidade para nossa vida, assim também permitiríamos a legitimação profissional de um número enorme de pessoas, terapeutas, contribuindo para o surgimento de novas possibilidades de emprego nessa sociedade da informalidade. Devemos lembrar que estudos da Organização Internacional do Trabalho, órgão da ONU, considera que as Terapias Holísticas estão entre as grandes opções de emprego nos próximos anos, ficando atrás apenas dos setores de Informática e Turismo.Por tudo isso, propomos aqui o início desse processo de formação de um PROGRAMA HOLÍSTICO DE SAÚDE COLETIVA, que integre as diversas práticas e técnicas destas grandes racionalidades e, sob o princípio da COOPERAÇÃO, assim criar um sistema de Saúde mais capacitado para responder as demandas da população.Como diria Karl Marx: Terapeutas deste Brasil, uni-vos! ESTE ARTIGO FOI PUBLICADO NO JORNAL MERCÚRIO EM ABRIL DE 2005

Um comentário:

clara disse...

Vc tem algum pantagrama para promover a cura?