terça-feira, 15 de dezembro de 2009

1366 RIO DE JANEIRO DOGVILLE




"O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO..."

ATÉ VC VER UMA EXECUÇÃO, UMA FALSA BLITZ, UM POLICIAL ACHARCANDO, UMA CRIANÇA COM UMA ARMA...

ISSO ACONTECE NA ESQUINA DA SUA CASA

NÃO TEM ZONA NORTE NEM SUL

NEM FAVELA OU PERIFERIA

PELO MENOS NISSO SOMOS DEMOCRÁTICOS:

A VIOLÊNCIA GENERALIZADA ESTÁ AO ALCANCE DE TODOS

APESAR DO BARULHO DE TIROS SEREM HORRÍVEIS

PENSO QUE A PIOR VIOLÊNCIA É A VIOLÊNCIA POLÍTICA

USURPADORA DE RECURSOS PÚBLICOS

ENQUANTO NÃO TEMOS NADA QUE PRESTE

NEM SAÚDE NEM EDUCAÇÃO NEM ASFALTO NEM ESGOTO

NADA

A CIDADE DO RIO DE JANEIRO É UMA DAS PIORES CIDADES DO BRASIL

POR QUE SE ROUBA TANTO TANTO TANTO

POR ESSES POLÍTICO COLARINHOS-BRANCO

QUE QUALQUER TRAFICANTE É UM RÉLES LADRÃO DE GALINHAS

MESMO UM BEIRA-MAR É UM ZÉ PEQUENO COMPARADO A ESSES INDIVÍDUOS SILVEIRINHAS DE MERDA

CONHEÇO UM POLÍTICO QUE FOI DE ESQUERDA QUE TEVE IDEOLOGIA

E QUE HOJE SÓ QUER MORAR EM CONDOMÍNIO DE RICAÇO E TER O CARRO IMPORTADO BLINDADO MAIS CARO

VCS SÃO A ESCÓRIA

ESPIRITUALMENTE SERÃO "CHUPADOS PARA O PLANETA PEDRA" PARA VIVEREM UMA NOVA PRÉ-HISTÓRIA

NEM O INFERNO TE ACEITARÃO

POIS O DIABO TÊM SEUS CÓDIGOS

...

"CIDADE MARAVILHOSA..."

ESQUECE

DE HOJE ATÉ FEVEREIRO DE 2013 QUEM PUDER SAIR DAQUI

SAIA

VÁ PARA O INTERIOR - DE MINAS GERAIS PARA O CENTRO-OESTE

NINGUÉM VERÁ AS OLIMPÍADAS 2016


POIS NÃO HAVERÁ CIDADE NENHUMA


...


O ÚLTIMO A SAIR


APAGUE A LUZ




POR QUE AS TREVAS JÁ TÊM TUDO DOMINADO POR AQUI

domingo, 13 de dezembro de 2009

1365 PAI NOSSO TRADUZIDO DO ARAMAICO



A ORAÇÃO DO SENHOR
(Jesus)
Oh! Pai-Mãe do Cosmos, origem nossa!
Direciona tua luz dentro de nós,
tornando-a útil.
Cria Teu Reino de Unidade, agora.
Que somente a Tua Vontade possa atuar
dentro e junto à nossa vontade,
em tudo o que é luz e em todas as suas formas.
Prove, cada dia, tudo o que necessitamos
em pão e entendimento.
Desfaz os laços dos erros que nos prendem,
assim como nós liberamos as amarras
com que aprisionamos os erros dos nossos irmãos.
Não permitas que a superfície e a aparência
das coisas do mundo possam iludir-nos
e libera-nos de tudo o que nos detém.
De Ti nasce toda Vontade Reinante,
o poder e a força viva da ação,
a canção que se renova de idade em idade
e a tudo embeleza.
Possam a Tua Vontade, Poder e Canção
- afirmamos com viva força! -
ser o solo fecundo de onde cresçam
todas as nossas ações.
Amém.

1364 MAIS UM ASTRÓLOGO QUE SE FOI



Faleceu no Rio de Janeiro em 5 de setembro Luiz Cláudio Moniz, astrólogo, tarólogo e um grande conhecedor de mitologia e simbolismo. Moniz foi vítima de um câncer no pulmão particularmente agressivo: entre o diagnóstico e a morte passaram-se pouco mais de dois meses.


Moniz tinha graduação em Engenharia de Operação Eletrônica pela Universidade Santa Úrsula (1980). Após diversos cursos na área de especialização, obteve um mestrado em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2005). Nos últimos anos era professor colaborador do NEA - Núcleo de Estudos da Antiguidade/UERJ. Tinha experiência nas áreas de Estética, Filosofia da Arte e Mitologia. Era também autor do livro Mito e Música em Wagner e Nietzsche, tema que também inspirou a palestra apresentada por Moniz no Simpósio do Sinarj de 2003.


Sério, bem preparado e discreto, Moniz foi um dos representantes de uma tendência que ganha força entre pesquisadores de diversas cidades, especialmente no Rio de Janeiro: a dos astrólogos infiltrados no meio acadêmico, que sorrateiramente vêm "contrabandeando" temas de inspiração astrológica para suas pesquisas de mestrado ou doutorado.

INFO: www.constelar.com.br

1363 LEILA LOPES




QUERO APROVEITAR ESSE CANAL HOLÍSTICO

PARA HOMENAGEAR A ATRIZ LEILA LOPES

"QUEM É QUEM PARA JULGAR ALGUÉM"


LEILA FOI VÍTIMA DO QUE CHAMO "CULTURA DE CELEBRIDADE"


E ACABOU POR COMETER O SUICÍDIO


ESSA "CULTURA DE CELEBRIDADE"


ALTAMENTE DOMINANTE NA SOCIEDADE BRASILEIRA


ASSENTADA NO INDIVIDUALISMO, NARCISISMO E PERVERSÃO


ISOLA AS PESSOAS, PASTEURIZA APARÊNCIAS E SONHOS, 

FAZ A TODOS ÁVIDOS POR SEUS 15 MINUTOS DE FAMA


FAMA FAMA FAMA


MESMO QUE ÊFEMERA


MAS A EFEMERIDADE DAS COISAS EXIGE CONHECIMENTO E CORAGEM


NÃO QUERO POLEMIZAR


"QUEM É QUEM PARA JULGAR ALGUÉM"


ALGUNS CONSIDERAM O SUICÍDIO UM ATO DE CORAGEM


COMO ANTROPÓLOGO VEJO AS DIFERENÇAS DE VALORES ENTRE AS CULTURAS



MAS COMO TERAPEUTA HOLÍSTICO CONSIDERO UM ATO DE DESESPERO



E  DE FALTA DE UMA COMPREENSÃO MAIS PROFUNDA ACERCA DO QUE A VIDA É


A VIDA É UMA ESCOLA


E MUITAS LIÇÕES SÃO DIFÍCEIS MESMO


TODOS ERRAM E REPETEM DE ANO



ENVELHECER É MUITO LINDO!


MAIS AINDA QUANDO CONSTRUÍMOS ESSE PROCESSO - QUE NA VERDADE É O VIVER, A CONSTRUÇÃO DE NOSSA BIOGRAFIA


COM MUITA SAÚDE FÍSICA, PSICOLÓGICA E ESPIRITUAL


"MYRA LA ESSENCIA
NO LAS APARENCIAS"



TODOS PODEMOS PERCEBER A ESPIRITUALIDADE APRISIONADA, UMA BONDADE E GENEROSIDADE INERENTES NA CARTA DESPEDIDA DA ATRIZ


EU ME LEMBRO DELA DA PROFESSORINHA DA NOVELA RENASCER


TINHA UNS OLHOS PROFUNDOS - RESSALTANDO TODA SUA SENSIBILIDADE


MUITOS ARTISTAS SÃO PESSOAS PROFUNDAMENTE ESPIRITUAIS POIS EM TERMOS SIMBÓLICOS,


O MESMO ARQUÉTIPO QUE TRAZ A SENSIBILIDADE ARTÍSTICA, TRAZ A SENSIBILIDADE ESPIRITUAL~MEDIÚNICA E AINDA A NECESSIDADE DE UMA PRÁTICA HUMANISTA


TODOS AQUELES QUE TIVEREM O DOM DA ARTE DEVEM DESENVOLVER SUA ESPIRITUALIDADE E HUMANISMO INERENTES


SENÃO SUCUMBEM PERANTE IDEOLOGIAS QUE DOMINAM ESSE MUNDO


IDEOLOGIAS QUE VALORAM O EFÊMERO

...



NAS APARÊNCIAS VOCÊ SUCUMBIU À "CULTURA DA CELEBRIDADE"


MAS NA ESSÊNCIA VC REVELOU SUA ESPIRITUALIDADE


A VIDA É MESMO UM PALCO DE TODAS AS CONTRADIÇÕES EDOS CONTRÁRIOS


DADAÍSMO DE TRISTAN TZARA


...


EM SEU BARDO, SE ENTREGUE COM TODA FÉ 


QUE A LUZ DIVINA LHE ENVOLVA EM PROTEÇÃO E AMPARO


O PERDÃO É PARA TODOS OS QUE CONHECEM A DEUS


...


MAS ESSA "CULTURA DA CELEBRIDADE NÃO TEM PERDÃO:


VCS FIZERAM MAIS UMA VÍTIMA

1362 LEILA LOPES


Na noite em a atriz foi encontrada, a polícia afirmou que havia embalagens vazias de antidepressivos no apartamento. Leia abaixo, na íntegra, a carta deixada pela atriz:

"Não chorem, não sofram, eu estou ABSOLUTAMENTE FELIZ! Era tudo o que eu queria: ter paz eterna com meu Deus e, se possível, com minha mãe. Eu não me suicidei, eu parti para junto de Deus. Fiquem cientes que não bebo e não uso drogas, eu decidi que já fiz tudo que podia fazer nessa vida. Tive uma vida linda, conheci o mundo, vivi em cidades maravilhosas, tive uma família digna e conceituada em Esteio, brilhei na minha carreira, ganhei muito dinheiro e ajudei muita gente com ele. Realmente não soube administrá-lo e fui ludibriada por pessoas de má fé várias vezes, mas sempre renasci como uma fênix que sou e sempre fiquei bem de novo. Aliás, eu nunca me importei com o ter. Bom, tem muito mais sobre a minha vida, isso é só para verem como não sou covarde não, fui uma guerreira, mas cansei. É preciso coragem para deixar esta vida. Saibam todos que tiverem conhecimento desse documento que não estou desistindo da vida, estou em busca de Deus. Não é por falta de dinheiro, pois com o que tenho posso morar aqui, em Floripa ou no Sul. Mas acontece que eu não quero mais morar em lugar nenhum. Eu não quero envelhecer e sofrer. Eu vi minha mãe sofrer até a morte e não quero isso para mim. Eu quero paz! Estou cansada, cansada de cabeça! Não agüento mais pensar, pagar contas, resolver problemas... Vocês dirão: Todos vivem! Mas eu decidi que posso parar com isso, ser feliz, porque sei que Deus me perdoará e me aceitará como uma filha bondosa e generosa que sempre fui.

1361 LEILA LOPES


Aos meus fãs verdadeiros; aos jornalistas imparciais; ao Walter Negrão e sua esposa Orphilia; a LBV; ao Eduardo Gomes; ao prefeito de Itu, Herculano Neto e toda a sua equipe e ao meu amigo Zé meu muito obrigado. Às emissoras que trabalhei, obrigada. E aos colegas maravilhosos, muita luz! A todos os sites dignos que acompanharam a minha vida, SUCESSO! Ego, Esther Rocha, Thiago, Odair Del Pozzo, Felipe Campos, não se sintam esquecidos. Não posso citar nomes de amigas, pois aí seria um livro, mas Sueli você é a irmã que eu não tive. Márcia, seja sempre feliz amiga. Magrid, obrigada por tudo! Andréia, do TV Fama, beijo amiga. Tadeu (di Pietro) cadê você??? Desculpe a quem eu esqueci, a vida foi muito mais maravilhosa do que sofrida para mim. Obrigado Jesus, Nossa Senhora e meu Deus, perdoem-me e recebem-me como a filha honesta e bondosa que sempre procurei ser! Fiquem com Deus, todos! Leila Lopes.
Se existe sentimento maior que o amor, eu desconheço!"

1360 JUÍZO FINAL



Juízo Final

Composição: Élcio Soares / Nelson Cavaquinho
O sol....há de brilhar mais uma vez
A luz....há de chegar aos corações
Do mal....será queimada a semente
O amor...será eterno novamente
É o Juízo Final, a história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer
Repete a música 2 vezes:
O amor...será eterno novamente

1359 DIA DE GRAÇA



 

Dia de Graça

Composição: Candeia
Hoje é manhã de carnaval (ao esplendor)
As escolas vão desfilar (garbosamente)
Aquela gente de cor com a imponência de um rei, vai pisar na passarela (salve a Portela)
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
Viver alegria que sonhamos (durante o ano)
Damos o nosso coração, alegria e amor a todos sem distinção de cor
Mas depois da ilusão, coitado
Negro volta ao humilde barracão
Negro acorda é hora de acordar
Não negue a raça
Torne toda manhã dia de graça
Negro não se humilhe nem humilhe a ninguém
Todas as raças já foram escravas também
E deixa de ser rei só na folia e faça da sua Maria uma rainha todos os dias
E cante o samba na universidade
E verás que seu filho será príncipe de verdade
Aí então jamais tu voltarás ao barracão

1358 CORPO E CULTURA


CORPO E CULTURA
Everton Cardoso




O desenvolvimento da Antropologia enquanto saber está intimamente relacionado ao conceito de Cultura. Quando tentamos definir Cultura, geralmente pensamos em suas manifestações visíveis, externas em relação ao indivíduo e que se manifesta através de seu comportamento, constituindo os hábitos, trajes, rituais, instituições, etc., de determinados grupos sociais e regiões que englobam estes indivíduos. Entretanto, uma das importantes contribuições – talvez a mais importante – da Antropologia está justamente em demonstrar o caráter virtual, invisível da Cultura, algo inerente ao próprio indivíduo, presente em sua mente, em seu aparato psíquico. 


Tentando equacionar em seu discurso a postulação de uma unidade biológica da espécie humana e a questão da diversidade cultural – especialmente enfatizada a partir do advento de uma Antropologia experimental, a Etnografia -, o empreendimento antropológico apresenta a Cultura como o fator primordial de humanização do “bicho homem”, fator que torna estável as reações comportamentais – biológicas – desse homem, funcionando como um mecanismo adaptativo (Velho & Viveiros de Castro; 1980:16). Não obstante, esta humanização não se realiza universalmente de um modo único, ao contrário, sua objetivação ocorre sempre através de um modo de vida particular.

1357 CORPO E CULTURA


Assim,


“como os recentes estudos de etologia animal demonstraram (...), a clara variedade dos comportamentos culturais baseiam-se em certos mecanismos biológicos. Mas o que distingue o Humano é a elaboração particular sobre essa base natural”. (Velho & Viveiros de Castro; 1980:16-17).


Este mecanismo que humaniza o “bicho homem” é, por excelência, um instrumento de comunicação. Este entendimento veio marcar profundamente as teorias produzidas pela Antropologia sobre a noção de Cultura – principalmente a partir dos trabalhos de Claude Lévi-Strauss. De acordo com o etnólogo francês, Cultura define-se por um complexo conjunto de códigos que regem as ações coletivas de um determinado grupo.

1356 CORPO E CULTURA


Deste modo, a definição de Cultura enquanto código, isto é, enquanto um aparato de regras interpretativas que permitem ao indivíduo atribuir sentido ao mundo em que vive, nos remete à outra noção essencial para a Antropologia: a noção de sistema. Compreender Cultura como sistema significa perceber e valorizar a racionalidade específica de cada sociedade. Toda Cultura desenvolve um ‘corpo coerente’, um conjunto composto de regras, ‘costumes’, crenças, comportamentos, etc., que dá sentido às partes. Portanto, mais do que as manifestações externas, empíricas das atividades de uma sociedade, a Cultura é conjunto de regras inconscientes subjacentes a estas manifestações. 


Tais códigos que organizam e conferem sentido ao mundo sensível e que constituem a Cultura consistem em representações, em aparelhos simbólicos comuns ao grupo. Como um mapa que orienta o comportamento do indivíduo, Cultura não se confunde com o território, é uma representação abstrata deste e que permite ao indivíduo decifrá-lo, dividi-lo, classifica-lo.

1355 CORPO E CULTURA


Cultura é uma rede que se aplica sobre um território originalmente indistinto, impondo cortes, estabelecendo contrastes, diferenças e relações, criando fronteiras artificiais em um campo naturalmente contínuo: Cultura cria significados.


            Tomando como exemplo a classificação que as diferentes sociedades produzem acerca do espectro de cores, podemos perceber como se instituem tais cortes culturais. Se em um determinado grupo social não se distingue a cor verdes do azul, isto não significa que aqueles indivíduos não percebam ou não vejam a diferença entre ambas, mas sim, que essa diferença não possui significado socialmente construído e partilhado por eles. Assim, vemos também que a Cultura sendo um sistema de classificação atua de modo arbitrário ao atribuir sentido/significado ao mundo sensível, enquanto um conjunto de regras inconscientes de interpretação da realidade produz certas realidades.

1354 CORPO E CULTURA


Temos sempre a impressão de estarmos lidando com um mundo intrinsecamente ordenado, impressão de que “o mundo é assim porque têm que ser assim”, isto é, não conseguimos ter a percepção da arbitrariedade e nossa própria visão de mundo. Tudo parece se justiçar por uma razão lógica e plausível, pensamos que “as coisas são assim porque precisam ser assim”, o que invoca uma sensação de necessidade, de naturalidade.


Nossa Cultura produziu uma idéia de natureza como algo que escapa e se opõe a Cultura. Por exemplo, nada nos parece mais natural do que nosso corpo, nossas sensações corporais, os fenômenos biológicos que comandam nosso corpo; sempre nos parece que o que cai no terreno da biológica, da fisiologia corporal escapa à arbitrariedade da Cultura, estamos aí no terreno do universal, do que é igual para qualquer sociedade, qualquer grupo humano – onde “as coisas são assim porque têm de ser assim”. Entretanto, nenhuma ação humana pode ser explicada pelo simples pragmatismo. Nosso corpo, a maneira como o usamos, a maneira como dele falamos, a maneira de organizar nossas sensações corporais, tudo isso é atravessado pela Cultura da qual participamos, tudo isso é atravessado por valores culturais tão arbitrários como qualquer outro artefato cultural. Nosso corpo é uma realidade tão simbólica quanto física: nosso corpo também se presta a dar sentido ao mundo à nossa volta.

1353 CORPO E CULTURA


Alguns exemplos de hábitos relacionados ao corpo ou às necessidades corporais, que nos parecem naturais ou justificados pela necessidade, mostram que eles também possuem algo de gratuito, de arbitrário, que responde por seu sentido simbólico, por seu poder de dar sentido, de “fazer o mundo significar”.


Nosso primeiro exemplo é o ato de comer. Nada nos parece mais natural do que a necessidade de ingerir alimentos, no entanto, tudo o que envolve esta necessidade biológica é tão gratuito e arbitrário: o que comer, como, quando, com quem, aonde, etc. Ou seja, o ato de comer encerra um complexo ato classificatório. Vejamos:

1352 CORPO E CULTURA


1-O que se pode ou não comer: 

Nem tudo se é permitido comer e esta interdição é obviamente variável em cada contexto social. O que é classificado como comida corresponde a uma classificação do mundo, da natureza e sobretudo do mundo animal (animais comestíveis, domésticos, puros, impuros, etc.), portanto define a relação do homem com a natureza.

1351 CORPO E CULTURA


2-Como se pode comer o que se é comestível: 

O que pode ser comido deve ser preparado dentre 3 possibilidades – o alimento deve ser comido cru, cozido, ou preparado de alguma outra forma. Esta necessidade de preparação dos alimentos comestíveis implica em certo distanciamento da natureza, em uma necessidade de transformar o que vem da natureza em Cultura. Temos, portanto, novamente uma forma de classificação do mundo e da relação do homem com a natureza.

1350 CORPO E CULTURA


3- Quando se pode ou se deve comer o quê: 

Certos alimentos considerados especiais estão relacionados a festividades e rituais, bem como a momentos do dia. São os diferentes tipos de alimentos ligados a um modo de dividir o tempo, de marcá-lo através do que se come nas diferentes fases do dia e da vida e que dão um valor diferencial às partes do dia e da vida que resultam dessa divisão.

1349 CORPO E CULTURA


4- Quem pode ou deve comer o quê e quando na companhia de quem: 

Muitas vezes a definição de determinadas categorias se dá através de proibições/prescrições alimentares. Temos aqui um modo de classificação das pessoas segundo determinados critérios: categoria social, faixa etária, gênero, status, etc.

1348 CORPO E CULTURA


5- O modo de comer: 

O local apropriado para se comer institui uma série de divisões no espaço da casa – onde é possível/ aconselhável comer, onde é proibido – é portanto, uma forma de organizar esse espaço. Os utensílios usados (talheres, mesa, etc.) classificam também as pessoas que os usam: os modos à mesa estão entre uma das formas mais precisas de distinguir as pessoas, de determinar o grau de socialização de uma criança.

1347 CORPO E CULTURA


Por tudo o que vimos, podemos considerar as regras alimentares como pertencendo à nossa “gramática inconsciente” – que existe para dar sentido ao mundo – cuja transgressão provoca gafes além de graves transtornos (até mesmo fisiológicos). Cada refeição é um ato simbólico que comunicam alguma coisa sobre a forma como aquelas pessoas organizam e interpretam o mundo. Assim, todas as nossas ações, por mais pragmáticas que pareçam, são sempre um ato simbólico.

1346 CORPO E CULTURA


Portanto, através da maneira como usamos nosso corpo, como falamos dele e interpretamos suas mensagens, expressamos uma visão de mundo, nossa maneira de organizar o mundo. Vejamos agora como a Cultura se inscreve em nosso corpo: na relação mão direita x mão esquerda, temos uma classificação moral que constitui uma diferenciação no nível corporal determinando a preeminência da mão direita sobre a mão esquerda. Muitas vezes vemos nos diferentes contextos culturais, a mão direita ser considerada obrigatória, ao contrário, a mão esquerda aparece como interdita, e efetivamente a maioria das pessoas se torna destra.



A Cultura, então, inscreve no corpo as oposições de valores e contrastes do mundo moral:

1345 CORPO E CULTURA


SAGRADO
PROFANO
MÃO DIREITA
MÃO ESQUERDA
SOCIALMENTE APROVADA
SOCIALMENTE REPROVADA
O QUE APARECE
OBSCURO/OCULTO
SOLAR
LUNAR

1344 CORPO E CULTURA


Essa classificação originária que sustenta toda vida moral de uma sociedade está para sempre inscrita no uso que o homem faz de cada lado do corpo. Tomando como exemplo as diferentes culturas temos entre os Yorubas a mão direita é usada para comer (não usam talheres) enquanto a mão esquerda é usada para se tocar nas coisas “sujas”; na Turquia a mão esquerda também é considerada “impura” em relação à mão direita e é utilizada para a limpeza corporal; também na Índia é a mão direita que pode tocar os alimentos. A mão direita é, portanto, moral, freqüenta o terreno do sagrado, enquanto que a mão esquerda cai na esfera do profano, das coisas “sujas”, “impuras”, interditas.


O mesmo pode ser dito das demais partes do corpo, para as demais divisões (alto/baixo,cabeça/resto do corpo). Então, a Cultura se inscreve no corpo determinando o uso de suas diferentes partes, mas também sua aparência e seu uso:  

1343 CORPO E CULTURA


As diferentes modelações do corpo podem ser permanentes (como a circuncisão, escarificações,tatuagens, etc.) ou temporárias (como o controle de peso, a depilação, corte de cabelo, penteado, maquiagem, etc.). Os diferentes usos do corpo, por sua vez, implicam em um adestramento para o controle de: 
1) suas necessidades fisiológicas (expresso por exemplo, nas mortificações religiosas, no arroto entre os árabes, no escarro entre homens e mulheres, etc.), 
2) suas sensações corporais (dor, prazer, desconforto, bem-estar, frio, calor, etc.), 
3) seus movimentos corporais (andar, correr, sentar, falar, tocar,etc.). Todo este adestramento do corpo pode ser designado como uma Cultura somática, isto é um conjunto de regras de decoro que definem:           
                             
1- A maneira mais adequada de cumprir os atos físicos mais cotidianos; 
2- A maneira correta de como devem se desenrolar as interações físicas com os outros;                                                                                        
3- O grau de interesse e atenção que convém dar às sensações corporais e ao próprio corpo;                                                                                  
4- A maneira correta de falar do corpo, das sensações corporais, etc.

1342 CORPO E CULTURA


Especialmente a partir desta última, podemos perceber que o que consideramos doença ou uma sensação doentia – sentir-se doente – é um comportamento culturalmente constituído, portanto, varia cultural e socialmente como parte de uma Cultura somática específica.


Assim, a interpretação de sinais corporais como sinal de doença deve ser também relativizada. Determinados “sinais” físicos (sensações corporais) – seja qual for a sua gênese – tornam-se “sintomas” porque são percebidos e expressos a partir de formas socialmente adquiridas. Em outras palavras, esta tradução de sinal em sintoma é um ato de decifração que depende tanto do tipo de atenção que é dada às sensações corporais quanto de como essas sensações são discriminadas.

1341 CORPO E CULTURA


É um comportamento adquirido: “aprendemos” a discriminar as sensações corporais, “aprendemos” a agrupá-las, opô-las, comprá-las, isolá-las, atribuir um caráter positivo ou negativo, a ajustar o limite de tolerância a elas, etc. E quando uma sensação corporal é traduzida como sintoma, se busca um agente terapêutica que possa “tratá-la”.


Dentro da perspectiva que estamos construindo, a Medicina faz, de certo modo, parte da Cultura somática de certos grupos de nossa sociedade, produz certo modo de interpretar o corpo e de falar dele e, deste modo, contribui para a produção de certo tipo de interpretação das sensações corporais que leva as pessoas a procurar o médico: é o que se chama competência médica.

1340 CORPO E CULTURA


Portanto, a Medicina também é um sistema simbólico, ou melhor, faz parte do sistema simbólico de nossa sociedade

A Medicina, como qualquer sistema terapêutico, produz sentido em dois níveis:


1 - Como uma forma de dar sentido a experiências que de outro modo seriam ininteligíveis ou desagregadoras;

2 - Modelando nosso modo de sentir, expressar nossa experiência corporal e nossos mal-estares de um modo geral.