domingo, 13 de dezembro de 2009

1354 CORPO E CULTURA


Temos sempre a impressão de estarmos lidando com um mundo intrinsecamente ordenado, impressão de que “o mundo é assim porque têm que ser assim”, isto é, não conseguimos ter a percepção da arbitrariedade e nossa própria visão de mundo. Tudo parece se justiçar por uma razão lógica e plausível, pensamos que “as coisas são assim porque precisam ser assim”, o que invoca uma sensação de necessidade, de naturalidade.


Nossa Cultura produziu uma idéia de natureza como algo que escapa e se opõe a Cultura. Por exemplo, nada nos parece mais natural do que nosso corpo, nossas sensações corporais, os fenômenos biológicos que comandam nosso corpo; sempre nos parece que o que cai no terreno da biológica, da fisiologia corporal escapa à arbitrariedade da Cultura, estamos aí no terreno do universal, do que é igual para qualquer sociedade, qualquer grupo humano – onde “as coisas são assim porque têm de ser assim”. Entretanto, nenhuma ação humana pode ser explicada pelo simples pragmatismo. Nosso corpo, a maneira como o usamos, a maneira como dele falamos, a maneira de organizar nossas sensações corporais, tudo isso é atravessado pela Cultura da qual participamos, tudo isso é atravessado por valores culturais tão arbitrários como qualquer outro artefato cultural. Nosso corpo é uma realidade tão simbólica quanto física: nosso corpo também se presta a dar sentido ao mundo à nossa volta.

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