sábado, 12 de julho de 2008

682 ENTREVISTA COM CLARIE NOVAES

Léo: Gostaria que você me desse uma explicação sobre a mimosa hostilis, suas origens... quais as nações que a utilizam como sacramento espiritual?

Clarice: Bem, a Mimosa hostilis foi recentemente rebatizada como Mimosa tenueflora, é um arbusto endêmico das caatingas nordestinas, geralmente usado como alimento pelo gado solto nos pastos, mas tem sido usada como "a planta mágica" pelos nativos, desde o Rio Grande do Norte até Sergipe.

Praticamente todas as nações indígenas do nordeste a conhecem e usam. Há um bonito documentário feito pela Mercia Batista e Rachel Rocha intitulado "A cienciazinha Turká", na qual se vê a coleta, preparo e ritual de uso da Jurema entre os Turká. Os Fulniô também a usam constantemente, além dos Kariri-Xocó e Xocó (estes últimos em Sergipe). Foi isolado um alcalóide nas raízes da Mimosa h. e chamado de nigerina, um análogo do N, Ndimetiltriptamina, que é um alucinógeno, mas que só faz efeito se ingerido pelas vias respiratórias e não pelo trato digestivo. Se for ingerido como bebida, esta tem que ser misturada com outro composto para poder ser potencializado o efeito alucinógeno. A Yatra Silveira acha que o outro elemento é a Peganum harmala, uma erva que contém alkaloides beta-carbolino:Harmina, harmalina, tetra-hidroharmina, nas suas sementes. É uma planta de origem na Pérsia e na Índia, tendo sido usada como o Soma sagrado das gentes nativas daquelas regiões.

A Mimosa hostilis ou tenueflora é conhecida popularmente como Jurema negra, Jurema braba, Jurema de espinhos e Jurema de caboclo. Há outra planta também conhecida como Jurema, que é a Mimosa verrucosa. Os índios dizem que esta é a Jurema branca, "que não endoida", ou seja, não dá visões, mas acalma e alimenta a alma dos penitentes. Por alguma razão, por mim desconhecida, os Kariri-Xocó não têm tomado a Jurema nos seus últimos encontros no Ouricuri sagrado deles. Esta informação me foi passada pelo próprio pajé atual deles, assim como por um dos participantes.

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