sábado, 12 de julho de 2008

684 ENTREVISTA COM CLARICE NOVAES

Léo: Você poderia dar um breve relato da sua busca espiritual até chegar na Jurema ?

Clarice: Tudo começou com Michael Harner e a Transamazônica! Eu era estudante de antropologia na New School For Social Research, em Nova York, e o Michael era meu professor. Eu estava fora do Brasil há quase 11 anos e me preocupavam as noticias sobre os desmatamentos da Amazônia e a conseqüência para com os indígenas da região. Harner começava a falar sobre xamanismo, mas ainda ligado a sua formação antropológica, e ele me incentivava a procurar plantas psicoativas quando fosse fazer a minha pesquisa.

A princípio eu ia para a Amazônia, cheguei a contatar a FUNAI sobre ir aos Maku, no Alto Rio Negro, mas meu pai, que era sergipano, me instava a que trabalhasse com indígenas nordestinos. Ora, isso era o fim dos anos setenta, e praticamente ninguém no Brasil pensava em trabalhar com indígenas nordestinos porque nem se acreditava que existissem, ou não eram considerados como indígenas. Acabei assentindo e fui parar entre os Kariri Xocó. Harner ficou insistindo que eu procurasse saber qual era a planta mágica que eles usavam, pois assegurava que praticamente todas as nações indígenas usam princípios xamânicos e a ligação com uma realidade extraordinária através de uma ou várias plantas. Então, veja bem, eu fui fazer o trabalho não exatamente numa busca espiritual, mas como pesquisadora. Terminou, e claro, me afetando em termos de meus valores e crenças.

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