domingo, 4 de maio de 2008

593 O ASSASSINATO DE RASPUTIN

Na noite de 16 de dezembro de 1916 o Príncipe Youssoupov ergueu novamente sua taça. Mais um brinde. A figura que começava a cambalear em sua frente empinou o cálice e sorveu tudo de um só vez. Seus cabelos negros desgrenhados esparramavam-se pelos ombros e entre a barba, e a testa brilhavam seus poderosos olhos cinzentos, "olhos de lobos" como diziam, que já estavam um tanto embaçados. O monge Grigori Rasputin privava com os grandes da Rússia. Desde que uma aia da corte o havia apresentado a czarina Alexandra Fedorovna, por volta de 1905, ele se tornara a eminência parda da autocracia.

A corte em São Petersburgo era pródiga com os advinhos, os ilusionistas, os hipnotizadores e os charlatães de todas as espécies que encontravam junto ao casal real uma simpática acolhida. Quando mais o regime era isolado e odiado pela multidão, mais Nicolau II e sua mulher se cercavam de gente estranha, apelando crescentemente para o sobrenatural e para as forças do além. Rasputin, porém, foi diferente dos demais, pois ele ultrapassou todos os limites. O czarevitch, o jovem príncipe, era hemofílico e seus pequenos acidentes colocavam a família em polvorosa. A czarina se contorcia em culpas. A própria doença do herdeiro de certa forma já prenunciava o fim da dinastia. Foi numa daquelas crises terríveis, com o menino quase agonizante ao leito, que brilhou a estrela de Rasputin.

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