A.A. - Além da antropologia, houve algo mais....
- Sim. Sou músico, e para mim a música é muito interessante, porque permite um verdadeiro intercâmbio entre os Estados Unidos e o Brasil. Naquela época tomei conhecimento de coisas que eu não conhecia antes. Já conhecia a bossa-nova, Tom Jobim, tinha assistido a uma apresentação em São Francisco de Sérgio Mendes, Wanda Sá, Rosinha de Valença. Depois Stan Getz apresentou o trabalho de vários artistas brasileiros. Gosto muito desse tipo de música e a toquei muito, profissionalmente e para mim mesmo. Quando cheguei ao Brasil descobri Chico Buarque, Dorival Caymmi, Gilberto Gil. Esses não eram conhecidos nos Estados Unidos. Voltei para lá com perto de trinta discos para estudar, e também com uma porção de livros de antropologia e sociologia. Em 1978, estive novamente no Brasil para participar do Simpósio sobre Saúde Mental promovido pelo IBRAPSI. Nesse meio tempo, mantive contato com Gilberto, que sempre me enviava novas coisas para ler. Permaneci a par do que acontecia aqui. Este é um problema interessante, que não sei como poderá ser resolvido: sei que agora muitos desses textos seriam importantes para o trabalho de meus colegas e alunos nos Estados Unidos, mas eles não lêem português e não há traduções. E sei que não vão aprender português para ler. Algumas vezes consigo que meus alunos leiam francês, porque já estudaram essa língua no college. Português é mais difícil. É pena, porque seria importante que eles lessem esses textos. É claro que poderão sobreviver sem isso, mas perderão trabalhos originais, criativos, que contêm um rico material empírico e que também seriam úteis para fins comparativos. Desde 1976, quando aprendi outro idioma, insisto que todos devem conhecer outras línguas. Mas acho que isso não é realista nos Estados Unidos. Eles acham que não precisam e não aprendem.
A.A. - Com que áreas das ciências sociais brasileiras você tem mais contato?
- O que conheço melhor é o trabalho em antropologia urbana do Museu Nacional. Conheço também o trabalho de outros centros de ciências sociais. Tenho uma coleção de livros brasileiros e os leio de vez em quando. Há áreas de pesquisa muito interessantes: trabalhos sobre desvio, escolas, sociologia da arte e, embora não seja a minha área, religiões populares. Desta vez Gilberto me introduziu ao trabalho de Antônio Cândido. Li seu artigo na revista Novos Estudos CEBRAP sobre literatura e fiquei muito interessado. 22 Li também outras coisas dele. Tenho grande interesse na relação entre fotografia e ciências sociais, na interpretação de fotografias, e venho trabalhando nisso há algum tempo - provavelmente Gombrich e outros me despertam para essa possibilidade. Lendo o trabalho de Antônio Cândido, fico pensando na possibilidade de fazer com a fotografia o mesmo tipo de interpretação que ele faz com textos literários, especialmente em Tese e antítese.
A.A. - Em termos de intercâmbio institucional, quais são os frutos de seu contato com o Brasil?
- O Departamento de Sociologia da minha universidade, a Northwestern, tem promovido um intercâmbio de estudantes, recebendo alunos não só do Museu Nacional, mas de outras instituições como o IUPERJ e a Universidade Federal de Santa Catarina. Temos contato também com a USP e a Unicamp. Gilberto coordenou a publicação do meu Uma teoria da ação coletiva aqui, e vários artigos seus e de seus alunos têm sido divulgados nos Estados Unidos, despertando entusiasmo e interesse. Tem sido um contato frutífero.
A.A. - Você tem algum interesse, em fazer um estudo sobre o Brasil?
- Comecei a fazer um estudo sobre música brasileira, mas sou muito preguiçoso. Atualmente, venci minha preguiça, me reuni a outras duas pessoas e estamos fazendo uma grande pesquisa em comunidades teatrais em três cidades dos Estados Unidos: Chicago, São Francisco e Minneapolis-Saint Paul. Há quarenta anos atrás, todo o movimento teatral do país estava concentrado em Nova York. Lá eles preparavam as companhias que viajavam para as outras cidades. Lá estava o teatro. Hoje existem talvez umas vinte cidades que têm uma vida teatral intensa, independentemente de Nova York. É muito interessante, e resolvemos estudar isso. Já fizemos mais de cem entrevistas, e é um trabalho bom de se fazer. Quanto ao Brasil, às vezes passa pela minha cabeça fazer uma pesquisa aqui, mas realisticamente acho que não o farei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário