M.I. - De qualquer forma, você não acha que Marx trouxe para a cultura uma revolução copernicana, assim como Freud?
- Não. Essa história de Marx realmente ainda permeia o Brasil... Vão acabar me expulsando daqui. Mas não acho que nem Marx nem Freud tenham produzido uma revolução copernicana. Darwin sim. Marx tornou-se um centro de convergência porque fez algumas coisas importantes, mas não esse tipo de revolução. Nem ele nem Freud.
G.V. - Em Chicago vocês tinham alguma relação com universidades inglesas? Você mencionou alemães e franceses.
- O que acontecia era que do ponto de vista americano, pouca coisa estava acontecendo por lá. Os trabalhos que nos interessavam eram de pessoas que vinham da Europa e incorporavam métodos e técnicas americanas, como Michel Crozier e Georges Friedmann. Hughes gostava muito desses trabalhos, especialmente de Friedmann. Não lembro agora do primeiro trabalho inglês de que tomei conhecimento, mas certamente foi na área da antropologia. Estudamos muito bem a antropologia britânica com Lloyd Warner, que foi aluno de Radcliffe-Brown e era ligado à tradição da antropologia social britânica. Lemos também Malinowski, Evans-Pritchard e Meyer Fortes.
G.V. - Radcliffe-Brown esteve ele próprio em Chicago.
- Sim. Ficou lá seis anos. Namorou todas as alunas e depois foi para a Austrália. Ficou famoso por isso. Mas não o conheci, pois ele deixou os Estados Unidos em 1936.
A.A. - Qual era a relação entre a Escola de Chicago e a École des Annales?
- Tive que ler Marc Bloch, A sociedade feudal. Havia trabalhos-padrão como esse que estudamos. Mas o contato entre Chicago e a École des Annales era pequeno. De toda forma sempre procurei ler e utilizar tudo o que estivesse disponível. Li Fustel de Coulanges, Tõnnies, tudo o que fosse disponível em inglês nós líamos.
G.V. - Os estudantes de sociologia americanos ainda lêem essas coisas hoje em dia?
- Acho que não. O que aconteceu com a leitura da teoria nos Estados Unidos foi que isso passou a ser uma coisa que você faz para obter o diploma. E nos anos; 60 inaugurou-se a tradição de uma trilogia: Marx, Durkheim e Weber. Você diz para as pessoas: teoria. Elas respondem: Marx, Durkheim e Weber.
Nenhum comentário:
Postar um comentário