G.V. - Ainda assim, houve uma influência intelectual de Marx nos meios acadêmicos?
- Sim. Mas acho que havia pouca coisa de Marx disponível em inglês. Não tenho certeza, mas acho que ele não era muito lido. Ao que sei, nunca teve uma influência marcante. Mas devo dizer que, na minha época, politicamente eu era completamente ingênuo. Quer dizer, fui criado dentro de uma tradição em Chicago segundo a qual, quando você nascia, a primeira coisa que você aprendia era: "Vote no Partido Democrata!" Vocês sabem, nasci em 1928, com a chegada de Hitler, e para a maioria dos judeus Roosevelt iria salvar de Hitler os judeus do mundo. Era só isso, não havia mais nada a dizer.
G.V. -A Universidade de Chicago era predominantemente pró-Partido Democrata?
- Não Sei. Quando estava lá, finalmente me conscientizei de que muitos dos meus colegas estavam envolvidos com grupos de esquerda. A maioria era trotskista. Entre os professores, acho que não havia muitos. Talvez os mais velhos. Ogburn, por exemplo, era sabidamente membro de todas aquelas sociedades de amizade soviético-americanas. Burgess também.
G.V. - Que tipo de envolvimento essas pessoas tinham com o New Deal de Roosevelt?
- Pessoas como Ogbum estavam muito envolvidas. Blumer também. Ele foi o principal negociador do conflito entre os trabalhadores da indústria do aço e a United States Steel Corporation durante a guerra. Muitos estavam envolvidos com o censo demográfico do governo Roosevelt, que tinha como objetivo apresentar um retrato da sociedade americana, especialmente voltado para identificar desigualdades econômicas e sociais. Mas quanto à tradição marxista... Quando eu estava no college lemos o Manifesto comunista e também algumas partes de O capital em classe - mas atenção, isso foi na graduação, e não na pós-graduação. Meu período na pós-graduação foi a época da pior repressão, a época em que o macarthismo ficou muito forte.
G.V. - Esse ponto é extremamente interessante. O marxismo não leve um papel importante no ambiente intelectual americano devido à repressão. Mas em muitas outras partes do mundo também havia repressão e ele foi importante, até mesmo por causa da repressão. Não haveria outras razões para o fato de o marxismo não ter tido peso na cultura intelectual americana?
- Bem, há sempre o problema da excepcionalidade americana. Por que nós não tivemos uma revolução? Deveríamos ter tido. Esse é um grande problema teórico: por que não houve uma revolução americana?
G.V. – Marx foi muito importante, por exemplo, para a New School of Social Research, onde chegou através da Escola de Frankfurt e de outros centros europeus.
- A Escola de Frankfurt realmente teve uma influência profunda nos Estados Unidos através, por exemplo, de Horkheimer e Adorno. Mas o principal trabalho do grupo de Frankfurt que foi para os Estados Unidos era um trabalho muito psicológico, The Authoritarian Pesonality, um livro estranho para ter sido escrito por marxistas. Tratava-se na verdade de um estudo sobre a psicologia das reações, sobre o tipo de personalidade que estaria por trás do autoritarismo. É um trabalho empírico cuidadoso, cheio de dados. Vários trabalhos importantes foram feitos a partir desse livro.
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