Além disso, não aprendeu nada da história? Já uma vez antes, uma tentativa desse
tipo, a de substituir a religião pela razão, foi feita oficialmente e em grande estilo.
Decerto se lembra da Revolução Francesa e de Robespierre? E deve também lembrarse
de quão efêmera e deploravelmente ineficaz a experiência foi? A mesma experiência
está sendo repetida atualmente na Rússia e não precisamos ficar curiosos sobre o seu
resultado. Não acha que podemos aceitar como algo evidente o fato de que os homens
não podem passar sem religião?
Você mesmo disse que a religião é mais que uma neurose obsessiva. Mas não tratou
desse outro lado dela. Contentou-se em elaborar a analogia com uma neurose. Os
homens, diz você, devem ser libertados da neurose. O que se possa perder no processo
não lhe interessa.”
A aparência de contradição provavelmente surgiu porque lidei com assuntos
complicados de modo muito apressado. Até certo ponto, porém, podemos remediar
isso. Continuo a sustentar que o que escrevi é, sob determinado aspecto, inteiramente
inócuo. Nenhum crente se permitirá ser desviado de sua fé por esses argumentos ou
outros semelhantes. O crente está ligado aos ensinamentos da religião por certos
vínculos afetivos. Contudo, indubitavelmente existem inumeráveis outras pessoas que
não são crentes, no mesmo sentido. Obedecem aos preceitos da civilização porque se
deixam intimidar pelas ameaças da religião e têm medo dela enquanto se vêem
obrigados a considerá-la como parte da realidade que as cerca. São as pessoas que
desertam tão logo lhes é permitido abandonar sua crença no valor de realidade da
religião. No entanto, elas também não são afetadas por argumentos. Deixam de temer
a religião quando observam que os outros não a temem, e foi a respeito delas que
afirmei que acabariam por saber do declínio da influência religiosa mesmo que eu não
publicasse meu trabalho. [[1].]
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