quinta-feira, 3 de junho de 2010

1433 O FUTURO DE UMA ILUSÃO


V
Retomemos o fio de nossa investigação. Qual é, então, a significação psicológica das
idéias religiosas e sob que título devemos classificá-las? A pergunta de modo algum é
fácil de ser imediatamente respondida. Após rejeitar uma série de formulações, nos
fixaremos na que se segue. As idéias religiosas são ensinamentos e afirmações sobre
fatos e condições da realidade externa (ou interna) que nos dizem algo que não
descobrimos por nós mesmos e que reivindicam nossa crença. Visto nos fornecerem
informações sobre o que é mais importante e interessante para nós na vida, elas são
particular e altamente prezadas. Quem quer que nada conheça a respeito delas é
muito ignorante, e todos que as tenham acrescentado a seu conhecimento podem
considerar-se muito mais ricos.
Existem, naturalmente, muitos ensinamentos desse tipo sobre as mais variadas coisas
do mundo. Toda lição escolar está cheia deles. Consideremos a geografia. É-nos dito
que a cidade de Constança fica sobre o Bodensee. Uma canção estudantil acrescenta:
“se não acredita, vá lá e veja”. Suponhamos que eu estive lá e que pude confirmar que
de fato aquela encantadora cidade fica à beira de uma vasta extensão de água,
chamada de Bodensee por todos os que vivem em torno dela; então, me convenci
totalmente da correção daquela afirmação geográfica. Com respeito a isso, recordome
de outra experiência, bastante notável. Já era homem maduro quando pela
primeira vez me encontrei sobre a colina da Acrópole, em Atenas, entre as ruínas do
templo, contemplando o mar azul. Uma sensação de espanto mesclava-se à minha
alegria. Ela parecia dizer: “Então é realmente verdade, tal como aprendemos na
escola!” Quão superficial e fraca deve ter sido a crença que então adquirira na
verdade real do que ouvira, se agora podia ficar tão espantado! Não darei, porém,
demasiada ênfase ao significado dessa experiência, pois meu espanto poderia ter tido
outra explicação, que não me ocorreu na ocasião, e que é de natureza inteiramente
subjetiva, nada tendo a ver com o caráter especial do lugar.

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