Esse fato psicológico tem importância decisiva para nosso julgamento da civilização
humana. Onde, a princípio, poderíamos pensar que sua essência reside no controle da
natureza para o fim de adquirir riqueza, e que os perigos que a ameaçam poderiam
ser eliminados por meio de uma distribuição apropriada dessa riqueza entre os
homens, parece agora que a ênfase se deslocou do material para o mental. A questão
decisiva consiste em saber se, e até que ponto, é possível diminuir o ônus dos
sacrifícios instintuais impostos aos homens, reconciliá-los com aqueles que
necessariamente devem permanecer e fornecer-lhes uma compensação. É tão
impossível passar sem o controle da massa por uma minoria, quanto dispensar a
coerção no trabalho da civilização, já que as massas são preguiçosas e pouco
inteligentes; não têm amor à renúncia instintual e não podem ser convencidas pelo
argumento de sua inevitabilidade; os indivíduos que as compõem apóiam-se uns aos
outros em dar rédea livre a sua indisciplina. Só através da influência de indivíduos
que possam fornecer um exemplo e a quem reconheçam como líderes, as massas
podem ser induzidas a efetuar o trabalho e a suportar as renúncias de que a existência
depende. Tudo correrá bem se esses líderes forem pessoas com uma compreensão
interna superior das necessidades da vida, e que se tenham erguido à altura de
dominar seus próprios desejos instintuais. Há, porém, o perigo de que, a fim de não
perderem sua influência, possam ceder à massa mais do que esta a eles; por
conseguinte, parece necessário que sejam independentes dela pela posse dos meios de
poder à sua disposição. Expressando-o de modo sucinto, existem duas características
humanas muito difundidas, responsáveis pelo fato de os regulamentos da civilização
só poderem ser mantidos através de certo grau de coerção, a saber, que os homens não
são espontaneamente amantes do trabalho e que os argumentos não têm valia alguma
contra suas paixões.
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