VI
Acho que preparamos suficientemente o caminho para uma resposta a ambas as
perguntas.
Ela será encontrada se voltarmos nossa atenção para a origem psíquica das idéias
religiosas. Estas, proclamadas como ensinamentos, não constituem precipitados de
experiência ou resultados finais de pensamento: são ilusões, realizações dos mais
antigos, fortes e prementes desejos da humanidade. O segredo de sua força reside na
força desses desejos. Como já sabemos, a impressão terrificante de desamparo na
infância despertou a necessidade de proteção – de proteção através do amor –, a qual
foi proporcionada pelo pai; o reconhecimento de que esse desamparo perdura através
da vida tornou necessário aferrar-se à existência de um pai, dessa vez, porém, um pai
mais poderoso. Assim o governo benevolente de uma Providência divina mitiga nosso
temor dos perigos da vida; o estabelecimento de uma ordem moral mundial assegura
a realização das exigências de justiça, que com tanta freqüência permaneceram
irrealizadas na civilização humana; e o prolongamento da existência terrena numa
vida futura fornece a estrutura local e temporal em que essas realizações de desejo se
efetuarão. As respostas aos enigmas que tentam a curiosidade do homem, tais como a
maneira pela qual o universo começou ou a relação entre corpo e mente, são
desenvolvidas em conformidade com as suposições subjacentes a esse sistema.
Constitui alívio enorme para a psique individual se os conflitos de sua infância, que
surgem do complexo paterno – conflitos que nunca superou inteiramente –, são dela
retirados e levados a uma solução universalmente aceita.
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