IX
“Você se permite contradições difíceis de reconciliar. Começa dizendo que um
trabalho como o seu é inteiramente inócuo: ninguém se permitirá ser despojado de
sua fé por considerações do tipo das que apresenta. Não obstante, desde que, e tal
como fica depois evidente, é sua intenção perturbar essa fé, podemos perguntar-lhe
por que, na realidade, está publicando sua obra? Ademais, em outra passagem,
admite que pode ser perigoso, e de fato muito perigoso, que alguém descubra que as
pessoas não acreditam mais em Deus. Até então se mostrara dócil, mas agora parece
desprezar sua obediência aos preceitos da civilização. Entretanto, sua asserção de que
basear os mandamentos da civilização em fundamentos religiosos constitui um perigo
para aquela, repousa na presunção de que o crente pode ser transformado num
incrédulo. Sem dúvida isso é uma contradição completa.
E eis aqui uma outra. Por um lado, você admite que os homens não podem ser
dirigidos por sua inteligência, que são governados por suas paixões e suas exigências
instintuais. Por outro, porém, propõe substituir a base afetiva de sua obediência à
civilização por uma base racional. Quem puder, que compreenda. A mim, parece que
não deve ser uma coisa nem outra.
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